domingo, 16 de maio de 2010

Celta branco

Andando sozinha pelos cômodos vazios da casa silenciosa, relutando em ir para a cama. Dormira o dia todo, fugindo de uma dura realidade, de uma dura verdade, como se o sono induzido pudesse livrá-la daquelas lembranças de outrora.

Anos, anos e mais alguns anos já se passaram e a lâmina da decepção ainda atravessa impiedosa o seu peito, partindo ao meio o coração pulsante e quente que ela possuía. Possuía...Verbo no passado, pois o que resta agora pós tamanha tristeza é apenas uma massa fria e necrosada que reluta em manter-lhe o sangue invadindo cada pedaço de si.
O castelo de sonhos desmoronou e como se fosse feito de areia fina, uma enorme onda do oceano de desamor invadiu cada porta do palácio da paixão perfeita. Mar de desilusão veio em hora tão inconveniente, deixando – a afogada em desamparo e sofrimento. Oh, água maldita, trouxe apenas traição e desconfiança.

E agora ela se protege do frio com o casaco de lã fina. O silêncio daquele lar vai acabar por enlouquecê-la, se é que ela ainda não está louca... Ela sabe que não é a mesma, ela sabe que sofre com a demência dos desiludidos. O insano medo de repetir aquele mesmo erro. Não foi ela que traiu. Não foi ela que errou. Mas a auto-flagelação cai bem à mente dos sôfregos. Ela se culpa. Ela se tranca.

Chega de silêncio para essa menina-mulher com tão pouca idade, mas tanta história para relembrar. Sofre, princesa de castelo de fuligem. Aquela que um dia fora bela e vivaz teve sua vontade de viver consumida pela Fera. E ela acha as chaves do carro.
Esta noite ela dirige em círculos pela cidade, ainda sem sono ela vê a madrugada pelo retrovisor, são nessas noites geladas que a lamina que permanece machucando-lhe o coração dói mais.Ele foi embora porque podia. Ela chorou porque devia, e 115 Km/H ajudam a esquecer as noites na cama grande... Tão vazia sem ele.

Passa pelo bar, passa pelo posto, passa pelos carros parados no estacionamento do parque. Dentro do fox vermelho parado bem no meio da quadra um casal se beija, eles bradam sua felicidade com a janela do carro devidamente escancarada
Ah, como ela odeia os fox vermelhos, chorosa, ela não quer ver a alegria alheia.Amor a deixa enojada, e 130 Km/H ajudam a secar as lágrimas , velocidade faz bem a ela, então...Pisa no pedal direito, o salto alto do escarpin preto escapa de vez em qujando, mas o carro continua rápido o suficiente para que o vento levante seus longos cabelos...

Acelera
Acelera
Acelera

Passa pela arvore antiga, passa pelo sinal vermelho... Celta branco na contramão...Droga, pensa ela, tinha que ser um celta branco...não poderia ser um crhisler, ou um fusion ...Os faróis do carro dela iluminaram justamente um celtinha ...Droga...Freia, desliza, não... Não pode frear, ela pensa, enquanto solta todos os pedais e espera seu carro morrer devidamente intacto, enquanto o minúsculo branco com motorista ainda mais insignificante continua sua peregrinação na pista errada.

IDIOTA – Pensa ela

Menina assustada, hoje dirigiu sozinha pela cidade, mas agora...Ou você morre aos 140Km/h ou vai para casa com o rabinho entre as pernas...Escolhe menina assustada.escolhe menina medrosa, entre você e seu fantasma.
E às 4;20 da manhã, eu chego em casa.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Pudores tive

Resposta ao pudores tenho do micro crônicas cretinas

Pudores tive. Agora de menina pudorosa não resta nada mais, quem sabe virando minha moral de cabeça para baixo e chacoalhando a ética que me reside alguém encontre ainda uma gotinha de pudor já avinagrado.Pudores de olhar, pudores de falar, pudores de reparar, pudores de fazer..Não, não me resta.Risadinha irônica fora de hora. Olhar perdido no meio da multidão. Sarcasmo com quem não se deve , alias devo confessar que esse último me agrada um pouco, me tira da minha zona de conforto, rush de adrenalina quando percebo a besteira que fiz.

Menina pudorosa de saia no joelho, trocada por menina despudorada de saia levantada. Olhar perdido assusta um pouco, afasta também. Semblante de Monalisa dá um certo “Je ne sais quoi” e aproxima moçoilas do pedestal, apesar de mandar os pretendentes água abaixo...É assim mesmo meninas despudoradas são colocadas em pedestal de mármore enquanto as (pelo menos aparentemente) pudorosas acabam indo para o altar.

Bem, já casei uma vez, não pretendo vestir branco tão cedo, frase irônica escrita com olhar perdido e nenhum sorriso nos lábios, exatamente como cabe à uma Monalisa despudorada.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

ELA

Ela chama, e chama, e chama, em chamas ela chama.Ele olha, .Nos olhos dela ele olha. Nos lábios dla ele olha, ele olha.

Ela sorri, sorrisinho de menina que fez arte, sorrisinho de menina que faz arte.Sorrisinho de menina que sabe que é uma obra de arte...Sorrisinho.Sorrisinho.

Ele vem passo a passo.Ele vem passos firmes.Ele vem... Passos controlados.Ele vem passos ansiosos.Ele vem .Ele vem.

Ela toca a pele dele.Ele toca em sua pele.Ela toca piano.Ele fica tocado com sua musica.Ela toca.Ele a toca.Ela o toca.E toca.

Beijo na nuca, ela suspira.Ele respira.Ela respira mais rápido.Ele suspira e respira.Ela suspira e suspira...

Ele a levanta, pega no colo.Mãos na cintura.Dela...Pernas ao redor da cintura.Dele...
Pernas dela.Nas mãos.Dele.Ele...Nela.

boca na boca.lábios dela.Macios...Labios dele.Firmes...Lábios nos labios. Labios na pele.Labios dele.Nela...



Chama.
Olha.
Sorri.
Vem.
Toca.
Suspira.
levanta.
Beija.
Ama.
Ama.
Ama...

segunda-feira, 3 de maio de 2010

bonecas dançam ballet


, upload feito originalmente por Bonecadebby.

só pra dar uma variada, foto no lugar do texto

sábado, 1 de maio de 2010

Quando ele veio...

O carro parado.Ele parado.Ela parada.Olhos nos olhos.Olhos na boca.Olhos nos braços fortes e nos ombros largos que ele tem.Um e noventa e tres de altura, ele muito alto e ela muito pequena perto dele, ela solta um sorrisinho fora de hora quando essa imagem lhe passa pela cabeça, ele percebe os olhos dela fixos nos ombros esquadrinhando cada centimetro, apenas músculos, muitos e bem trabalhados, ele abaixa os olhos e sorri envergonhadamente, do alto de seus vinte e nove anos ele sabe muito bem que imagem passa pela cabeça da pequena.Ela cora.

Em um gesto brusco e rápido ele a busca para perto, ela não sabe como chegou tão próxima dele, mas agora sente cada fibra do peitoral sob a camisa branca que ele usa, ela ainda está estarrecida com o arroubo do moço e olha nos olhos profundos azuis clarissimos que ele possui...Tão hipnotizantes, e ela ...Tão hipnotizada que nem percebe que o vestido levantou mais do que devia quase que revelando o que não podia.Ele ajeita a seda negra, mas não sem esboçar um sorrisinnho ironico,ela realmente não havia percebido até ele esboçar essa reação.Ela cora pela segunda vez.

Jogadora,ela sabe que os machos preferem as fêmeas ariscas, mas algo nele a faz derrubar todas aquelas paredes de gelo que as conquistadoras possuem. Ela apenas recosta, suspira e esquece de todas as lições de leoa que já aprendeu.Ele consegue envolvê-la com apenas um braço,são somente sessenta centímetros de cintura, não é muito difícil para ele.A outra mão busca a face dela, os cílios dela, as maçãs ainda vermelhas.

Ela sente a respiração dele calma e cada vez mais perto. Os dedos chegam até o pescoço da bela, e ela sabe que dedos na nuca precedem lábios nos lábios.De volta as lições de menina-mulher ela abre suas lanternas cor de mar para permitir-lhe um breve e doce contato com a boca dele .Um segundo apenas e ela se afasta, o rosto dele demonstra uma mistura de desejo e dúvida, sua expressão gritava a pergunta que não precisou ser dita.Ela diz:

- Você vai embora amanhã.

Ele compreende, sabe muito bem que o passado dos dois, combinado com o presente recente faz com que não tenham nenhuma esperançade futuro juntos.Conto de fadas açucarado, novela mexicana melosa, cliche de cinema, conto de livreto Sabrina...Nada isso se compara à história desses dois dentro do civic parado em frente à casa dela, no meio da avenida em plena hora do rush, mas para os dois, naquele momento, tudo é silencioso.

Ela afasta e toca a maçaneta do carro, ele segura o braço dela, mãos fortes chegam no pulso fino dela,firmemente, mas com tamanha suavidade que não chega a machucá-la, ao contrario, agora ela hesita um pouco mais em abrir a porta e suspira, suspira, suspira, em uma tentativa inútil de tentar descolar-se do banco, inútil mesmo, o cheiro amadeirado dele a mantém atada ao banco de couro.

Ele percebe a vontade dela, respiração ofegante não é um indício de quem quer partir, ela tem vontade dele, vontade de beijar, de abraçar, de tocar, vontade, vontade, vontade. Ele também tem ,de tudo isso e mais. Moça bela, loura e delicada, alva e mansa, voz doce,gestos ágeis, a pele fria de nervoso e o lábio quente do beijo recém dado.Vontade sim, mas ele não é injusto, muito menos inexperiente.
Ela agora está livre das algemas dele, mas não queria, não ainda e retirando os pensamentos lá do meio das nuvens, de volta a realidade do planeta Terra, ela se lembra do amanhã e abre a porta do carro, nesse mesmo instante ele com voz firme, decidida de homem feito fala mais alto do que deveria:

-Vem comigo!
Ele pausa e repete em tom de voz mais moderado:
-Vem embora comigo, para a minha cidade, vem comigo...

Gesto de amor, paixão, desejo, sabe-se lá o que o motivou a dizer isso, mas essa foi a frase dispersada no ar assim que a tranca do civic fez barulho.Ela congela, olhando apenas para a porta, tentando digerir o que acabara de ouvir, paralisada apenas espera... Não sabe bem o que...Mas apenas congela...E espera.

-vem comigo,ele repete.

Ela finalmente se mexe, o coração dá pulos e rodopios em seu peito, por dentro ela se transforma em arco-iris e diamantes, mas por fora apenas vira-se para ele, dá um longo suspiro e emudece. Ela tem raízes. Ela tem laços. Ela não vai. E ele sabe disso agora, pelo olhar doce por ela lançado e pelo "não posso" que teima em não sair da garganta da loira. Nem foi preciso falar nada, as palpebras abaixadas dele, e a mão na fronte passando os dedos pelos cabelos, também louros dele mesmo já dizem tudo.Não há nada a ser feito.

Em um último atento de ternura, ele puxa-lhe o rosto e beija-lhe a testa antes de dizer que ela pode mudar de idéia até as nove horas da manhã do outro dia, a hora que o voô dele sai de Campo Grande. Fria, expressão de reflexão um ,dois, três segundos que para ele pareceram uma eternidade, ele apenas percebe o peito dela se movendo mais rapido, coraão bate acelerado...Debby, Debby, fale alguma coisa, não me deixe nesse estado, ele balbucia.

E um último suspiro dela antes antes de se aproximar e beija-lo demoradamente.

Primeiro e último beijo dos dois, não é irônico como romances reais são tão mais difíceis que os novelescos? Ela pensa assim que se afasta e abre completamente a porta já destrancada, em um último gesto de carinho, ele segura sua mão assim que ela põe as pernas para fora e fala quase que num sussurro:

- Já te amo para sempre!!!

Porta do civic preto fechada, olhos fechados, coração fechado.No dia seguinte às nove em ponto, ele entra no avião e ela sonha com ele no edredon rosa.
Essa noite
Nessa noite

Já é noite
Fica noite
Calma à noite

Noite
Volta noite

Minha noite
Toda noite
Meia – noite

Vou à noite
Caço a noite

Envolve noite
Acalma à noite
Acorda à noite

Chama a noite
Chama à noite

Pede noite
Vem à noite
Quer a noite

Cai a noite
Clama a noite

Ama noite
Ama à noite